O esperanto, veículo da criatividade

Música, Teatro e Cinema


Ao contrário da pujante literatura em esperanto, a música -- a outra forma de expressão artística intimamente ligada à língua -- só muito recentemente atingiu um nível mínimo de cultivo no seio da comunidade esperantófona. Os motivos para isso são fáceis de diagnosticar: enquanto que é possível escrever e mesmo publicar uma obra escrita magistral são necessários recursos relativamente escassos e de fácil acesso, para produzir um fonograma, seja qual for o suporte final, são necessários meios de acesso muito restrito, disponíveis apenas com um recurso que, ao contrário do talento, escasseia no meio esperantista: o dinheiro.

Ainda assim, foi possível nas últimas décadas publicar algumas obras de qualidade crescente, encontrando-se hoje em dia disponíveis algumas centenas de títulos de música em esperanto, editados em vários suportes (vinil, cassete e compacto). É de notar que existe já uma etiqueta que edita exclusivamente em esperanto (Vinilkosmo, França) e um estúdio dirigido em regime de cooperativa para músicos esperantófonos (Pigo-Studio, Suécia).

As áreas cobertas, embora escassamente, são as mais variadas: o bel-canto, clássico e barroco (Vaselin DAMJANOV, Alberta CASEY), o gregoriano e o cânone (Kvartet' Suha, Akordo), a opera buffa, o cabaré e o vaudeville (Emily BARLASTON), o folk e o etno (Kajto, Oliver TZAUT), o rock sinfónico e experimental (Solo, Vladimir SOROKA), a bossa nova (Flávio FONSECA, Luanda COZETTI, Aaron KOENIG), o hard rock (Kredo, Team'), o afro-rock e o high life (JoMo, Afrika Espero), o pop-rock (Amplifiki, Persone, La Rozmariaj Beboj), o heavy metal, o garage e o trash (Piæismo, La Forfikulo) -- e mesmo o nosso fado (Faria de BASTOS).

No entanto a forma mais popular e frequente de música em esperanto é justamente aquela que mais se adequa às necessidades e características de um público disperso e eclético, aliadas à escassez de recursos materiais: Os chamados "bardoj" -- de estilo musical variável e diverso, acompanhados de guitarra solo, que compõem, improvisam, gravam e fazem digressões -- são estes o que há de mais característico na música cantada em esperanto. A citar, de entre os mais populares das décadas mais recentes, Gianfranco MOLLE, Z~omart AMZEEV, Roman BURA, Jacques YVART, Natas~a GERLAQ, Jerzy HANDZLIK, Miqai~l BRONS~TEI~N e a recente revelação Vladimir XIXKIN.

Os temas interpretados são frequentemente de produção original, não raro com textos de poetas esperantistas, embora sejam frequentes as traduções de temas provenientes de tipos musicais muito característicos desta ou daquela cultura (como no caso do fado) ou de hits da música popular internacionalizada -- estes últimos mais para serem cantados por entusiastas do que para uma apresentação em palco ou estúdio. Marginalmente, não é de deixar de referir a utilização que tem sido dada ao esperanto por músicos não-esperantistas, desde as ocasionais interpretações de Elvis COSTELLO à utilização menos clara (mas nem por isso menos digna de nota) no clip de lançamento de HIStory de Michael JACKSON.

Semelhante tem sido a utilização do esperanto como língua de países fictícios em obras cinematográficas tão diversas como O grande Ditador, com Charlie CHAPLIN, Streetfighter II, com Jean-Claude VAN DAMME, ou An Idiot's Delight, com Clark GABLE. A "verdadeira" cinematografia e teatro em esperanto sofrem porém do mesmo problema que a música, o da escassez de recursos. E se este problema pode ser evitado na música com a preferência por solos e por sonoplastias mais ou menos artesanais, a necessidade de investimento no cinema em esperanto resultou apenas na redução da quantidade, sendo pouco mais de uma dezena as produções dignas de nota. Isto, naturalmente exclui os filmes e vídeos didáticos, as reportagens promocionais e similares, e os filmes dobrados ou legendados, nos quais o esperanto tem encontrado uma aplicação relativamente vasta.

Considerando mais uma vez as dificuldades de servir um púbico espalhado esparsamente por todo o mundo e a quase ausência de apoios, o teatro em esperanto apresenta uma vitalidade impressionante, sendo não raras as actuações de diversas companhias nos congressos e encontros de esperanto, tendo muitas delas atingido níveis de qualidade exigíveis de um elenco profissional a tarbalhar a tempo inteiro.


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